Podemos abordar o evento ocorrido
naquele Pentecostes em que Deus cumpriu a promessa de dar inusitadamente o
Espírito Santo sob dois diferentes pontos de vista:
- a partir de uma perspectiva histórica
– em que Pentecostes deve ser considerado como um evento único, pontual,
irrepetível;
- e a partir de uma perspectiva que toma
em conta também os efeitos de Pentecostes – pelo qual devemos então considerar
aquele evento como o início de uma nova era na economia da salvação, em que o
Espírito Santo passa a estar presente não apenas no meio de nós – como, aliás,
sempre esteve! –, mas (essa sim é a novidade primordial), também, em nós!...
O que aconteceu em Pentecostes não foi o
derramamento definitivo, conclusivo, total da graça messiânica do Espírito, mas
o início desse derramamento. Aquele Espírito que – ainda que sempre estivera
presente entre nós – “não havia sido dado porque Jesus ainda não havia sido
glorificado” (cf. Jo 7, 37-39), agora, mediante o mistério pascal protagonizado
por Jesus, é dado de uma maneira nova aos Apóstolos e à Igreja e, por
intermédio deles, à humanidade e ao mundo todo. Ele, que já fora primeiramente
enviado como dom para o Filho que se fez homem, em Pentecostes vem em sua nova
missão para consumar a obra do Filho. “Deste modo, será ele quem levará à
realização plena a nova era da história da salvação”. (cf. DeV,22)...
Podemos dizer, pois, apropriadamente,
que “os tempos que estamos vivendo são tempos da efusão do Espírito Santo” (cf.
Cat. Ig. Cat., 2819).
Inseparáveis que são em sua natureza
divina única, as pessoas divinas também são inseparáveis naquilo que fazem;
isto é, sempre que age, Deus o faz trinitariamente.
“Contudo, cada pessoa divina opera a
obra comum segundo a sua propriedade pessoal... e cada uma delas manifesta o que
lhe é próprio na Trindade...” (cf. Cat. Ig. Cat., n. 258 e 266).
E o que seria próprio do operar do
Espírito nestes momentos da história que constituem o seu tempo? Por quais
sinais devemos, nós – Igreja congregada sob o impulso da Trindade – ansiar, em
decorrência de sua presente missão entre nós (e em nós!)?
Nesta sua nova missão de nos revelar e
comunicar a obra do Filho, o Espírito quer nos convencer de que Deus é Aba! Pai
(Rm 8,15), e que somos, em Cristo, irmãos (Rm 8,16) e herdeiros da graça (Rm 8,
17); que Jesus Cristo é Senhor (I Cor 12,3), e que nele encontramos a vida
plena e verdadeira (Rm 8, 1-2). E que por isso precisamos dar testemunho desse
Cristo, tarefa que não conseguimos realizar sem Seu poder (At 1,5-8), sem Seu
auxílio interior (DV, 5)...
“O Espírito Santo, na sua misteriosa
ligação de divina comunhão com o Redentor do homem, é quem dá continuidade à
sua obra: ele recebe do que é do Cristo e transmite-o a todos, entrando
incessantemente na história do mundo através do coração do homem” (DeV, 67).
Com uma fé expectante, pois, que se
alinhe aos crescentes anseios da Igreja no último século por “um novo e perene
Pentecostes” (conforme, por exemplo, o desejo de João XXIII, de Paulo VI, João
Paulo II, e de Bento XVI...), precisamos entender que aquele Pentecostes
histórico foi apenas o início de um derramamento diferenciado do dom do
Espírito em nós e entre nós. Agora – diferentemente do que acontecia antes da
glorificação de Jesus – o dom do Espírito é ofertado a todos (At 2,37-39), vem
para estar sempre presente em quem o acolhe (Jo 14,16), revelado como Pessoa
(Jo 14,26), conosco e em nós ( Jo 14, 16-17), e não apenas de um modo natural,
imanente, mas – pela graça do sacramento do Batismo – de maneira sobrenatural
(I Cor 3,16;6,20).
Possa o Espírito Santo, por nossa sede e
anuência, predispor nossos corações a um novo, fecundo e abundante derramamento
de suas graças, e assim, dóceis às Suas inspirações, sejamos animados a, “com
Seu poderoso sopro, levar nossos navios mar adentro, sem medo das tormentas,
seguros de que a Providência de Deus nos proporcionará grandes surpresas” (cf.
Doc. Aparecida, 551). Amém!
Reinaldo Reis
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